Jovem de 26 anos teve primeiro contato com as drogas aos 13, e anda desorientada pelas ruas da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Avó conseguiu a guarda do neto. Estrutura do Caps não é suficiente para atender todas as pessoas que precisam de acompanhamento.
Faz parte da rotina da faxineira Rosemir Amorim percorrer as ruas da Cidade de Deus, favela da Zona Oeste do Rio, em busca da filha. A jovem, que hoje tem 26 anos, entrou para o mundo das drogas aos 13 e, desde então, trava uma batalha contra o vício.
Nos últimos anos, a filha de Rosemir, que não foi identificada, chegou a fazer tratamento contra a dependência química no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), em Jacarepaguá, também na Zona Oeste, mas volta a ficar desorientada toda vez que o álcool, a maconha e o crack tomam conta da vida dela.
Por conta da dependência química, a mulher anda pelas ruas da comunidade sem rumo, e sua mãe chega a passar mais de uma hora, no sol forte, procurando informações sobre a filha.
Ela estava sob efeito de entorpecentes quando deu à luz e a criança acabou sendo levada para um abrigo. Há cerca de duas semanas, a avó conseguiu a guarda provisória do neto, que leva junto enquanto tenta resgatar a filha.
“Eu fico muito triste e acho que até o bebê sente a falta dela. Ela disse para mim, da outra vez que apareceu, que ela fica na rua porque tem vergonha e tem medo de eu brigar com ela”, conta Rosemir.
Atendimento insuficiente
Muitas famílias chegam ao limite e, sozinhas, não conseguem ajuda. Atualmente, na rede do Centros de Atenção Psicossocial (Caps) estão cadastradas 4.621 pessoas com problemas com álcool e drogas. Em toda a cidade, há apenas 137 vagas de acolhimento para quem precisa de ajuda.
Segundo o superintendente de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Hugo Fagundes, a estrutura do Caps ainda não é suficiente para atender todas as pessoas que necessitam de acompanhamento para dependência química na cidade.
“É ainda uma estrutura que precisa ser fortalecida. As unidades precisam de uma qualificação, de uma estruturação física. A gente precisa ampliar, tem áreas da cidade que a gente não tem serviços. Hoje, não tem para todo mundo. Dos 34 Centros de Atenção Psicossocial, apenas 13 funcionam 24 horas, durante os 7 dias da semana”, explica Fagundes.
Para o diretor do Núcleo de Estudos em Uso de Drogas da Uerj, Paulo Roberto Telles, o tratamento contínuo é importante para quebrar a continuidade do vício.
“Para essas pessoas, é fundamental o tratamento, porque isso evita o círculo vicioso, que é muito comum para quem usa drogas, em que a pessoa, cada vez mais, se aprofunda nesse problema e começa a ter sua vida roda alterada.”
Esperança no futuro
Enquanto Rosemir não encontra a filha, segue procurando com esperança de que a realidade mude.
“Eu falaria pra ela sair dessa vida, que ela é nova, bonita, pode trabalhar. Ela tem um futuro pela frente”, desabafa a mãe.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o planejamento para ampliação da assistência à saúde mental no Rio está no plano estratégico lançado em julho. A meta é reestruturar a rede de atendimento psicossocial e ampliar a cobertura de Caps na cidade.
Fonte: G1